Uma luso-brasileira, rainha de Portugal
- SIBILOG INFOMEDIA

- 19 de fev.
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Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança, nascida a 4 de abril de 1819, no Rio de Janeiro e falecida em Lisboa no dia 15 de novembro de 1853, aos 34 anos de idade, depois de uma vida palpitante, repleta de peripécias. Filha do Imperador D. Pedro I do Brasil e de Maria Leopoldina de Áustria, neta pela parte paterna do rei D. João VI de Portugal e da rainha D. Carlota Joaquina de Bourbon, princesa de Espanha. Bisneta pela parte paterna da rainha D. Maria I de Portugal, a louca, cognominada “a piedosa” e do rei consorte D.Pedro III, cognominado “o sacristão.” Bisneta pela parte paterna do rei Carlos IV de Espanha e de sua esposa Maria Luísa de Parma. Neta pela parte materna do imperador Francisco I da Áustria, conhecido como o único soberano de dois impérios ao mesmo tempo, que foi também rei da Hungria, Croácia e Boêmia.
Todos os ascendentes diretos de Maria da Glória, coroada rainha de Portugal como D. Maria II, cognominada “a boa mãe”, sofreram o cataclismo ocasionado pela Revolução Francesa. Todos foram obrigados a abdicar ou foram depostos por Napoleão Bonaparte. Todos menos um, o seu avô D. João VI que, ao transferir a corte de Portugal para o Brasil, escapou a esse fatídico destino. Aquele que parecia ser o mais fraco e bobalhão de todos, o ainda príncipe regente D. João, revelou-se ser o mais esperto, pois ao transferir a corte de Lisboa para o Rio de Janeiro, conseguiu ludibriar Napoleão Bonaparte, conseguindo assim preservar a integridade do território nacional e salvaguardar o melhor do seu império.
Astuta como o pai e como o avô, mas mais autoritária que ambos, D. Maria II subiu ao trono pela primeira vez em 1826, quando seu pai abdicou em seu favor e promulgou a Carta Constitucional de 1826. Contudo, seu tio D. Miguel, a quem havia sido prometida em casamento, usurpou o trono em 1828, instaurando um governo absolutista. Isso levou à Guerra Civil Portuguesa (1832-1834), que terminou com a vitória dos liberais e a restauração de D. Maria II como rainha em 1834.

D. Maria II casou-se duas vezes. Seu primeiro casamento foi com o príncipe Augusto de Leuchtenberg, em 1835, mas ele faleceu poucos meses depois. Em 1836, casou-se com o príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, que se tornou rei consorte D. Fernando II. Juntos, tiveram uma numerosa descendência, garantindo a continuidade da dinastia Bragança. Entre seus filhos destacam-se: D. Pedro V (1837-1861), rei de Portugal, conhecido por seu espírito reformista; D. Luís I (1838-1889), que sucedeu o irmão como rei de Portugal; D. João de Bragança (1842-1861), duque de Beja; D. Maria Ana (1843-1884), casou-se com o rei Jorge de Saxe e D. Antónia (1845-1913), casou-se com o príncipe Leopoldo de Hohenzollern. Dos onze filhos que teve, quatro morreram à nascença e D. Maria não verá o ano de 1861 em que os seus filhos, D. Pedro V já rei, João e Fernando irão morrer da epidemia de cólera.
D. Maria II foi uma monarca comprometida com o fortalecimento do liberalismo em Portugal. Seu governo consolidou a Carta Constitucional de 1826 e buscou equilibrar as tensões entre liberais moderados e radicais. Durante o seu longo reinado de 19 anos, ocorreram importantes reformas administrativas, educacionais e jurídicas, incluindo a reestruturação do ensino público, com a criação de escolas primárias e secundárias, a modernização da administração pública e do sistema judicial e fortalecimento do constitucionalismo. Apesar dos desafios políticos e econômicos da época, foi grande impulsionadora do Teatro em Portugal. Mandou construir na Praça do Rossio, que hoje leva o nome de seu pai, Praça D.Pedro IV, o deslumbrante edifício que hoje leva seu nome, o Teatro D. Maria II. Ironia do destino, este edifício foi construído no lugar onde antes funcionou o Palácio da Inquisição, deixando assim para a memória futura um testemunho da transição entre o obscurantismo religioso e a promoção das artes e da cultura.

D. Maria II faleceu prematuramente em 15 de novembro de 1853, aos 34 anos, devido a complicações no parto de seu décimo primeiro filho. Talvez por ter convivido com as constantes e inúmeras infidelidades do pai, D. Pedro, para com a sua mãe, Maria Leopoldina, a rainha D. Maria II viveu atormentada pelo medo de que o marido, o rei D. Fernando, lhe fosse infiel, por isso, segundo testemunhas que com ela conviveram, ela somava gravidez após gravidez obcecada pela ideia de não faltar aos deveres conjugais com o seu marido. Obsessão que lhe custou caro pois, apesar de frequentemente advertida pelos médicos da Corte dos perigos que representavam seus partos de risco, teimou em fecundar incessantemente até que a última gravidez lhe custou a vida. Isso contribui para que tenha ficado para a história como “a boa mãe”. Título merecido pois ela foi uma mãe dedicada tanto para os seus filhos como em referência aos seus súbditos que a veneravam como uma mãe da pátria.




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